sábado, 27 de abril de 2013

O PASSAGEIRO DO TEMPO

                           O PASSAGEIRO DO TEMPO

 
 
Um viajante, esperando o trem em Vale do Cerrado lá em Minas Gerais, não resistindo a vontade de tomar um cafezinho, sai da plataforma - a estação não tinha bar - e se dirige até um estabelecimento fora da estação. Desses estabelecimentos que vendem um pouco de tudo, que em lugarejos fica apinhado de gente, e com uma música metida a sertaneja lascada bem alto.
Neste pequeno intervalo de tempo, nosso amigo viajante com seu cafezinho pelando de quente, assoprava o copinho de plástico que já lhe queimava a mão fina de escriturário. Conseguiu tomá-lo. Paga a moça do caixa e nem esperando o troco sai apressado para a estação.
- E o trem? Raios! Ainda não veio? Olha em volta, não vê ninguém além do chefe da estação!
Pergunta - já meio desconfiado - Chefe? O trem ainda... não veio...!? O chefe responde: - Há alguns segundos depois do segundo apito já partiu. Deve estar passando agora na ponte do Piapara. E conclui com um rizinho: - você não é mineiro, é? Nosso amigo não responde nada; era de Salto do Tietê - SP!
Nem quis saber nem lhe interessava onde era essa tal ponte do Piapara! Só sabia que tinha perdido o trem e o dinheiro da passagem.
Em questões de tempo a coisa funciona assim: O trem chega e se vai. E, leva os passageiros que subiram para os vagões. E sem o nosso amigo escriturário, com sua maleta na mão.
O trem passa ele fica. Os passageiros devem esperar o trem. Não o contrário.
Para onde, Valfredo, - esse era seu nome - deveria atinar? Ao horário oportuno e factual. Os atrasos são contingentes. Há lugares na vida, que não adianta querer parar o mundo e adaptá-lo a nós. Somos nós que temos que nos adaptar ao mundo em concreto. Não cabem hipóteses: virá já, ou daqui a pouco? Estabelecer as prioridades é preciso.
Matutava agora Valfredo: "Devemos amar mais a oportunidade do que a expectativa. E, perder o trem da vida é perder a singularidade do momento oportuno". Estava tomando o fato como lição.
Você perdeu a validade de sua passagem. Olhe para ela! Que horário ela tem, qual a data? Outra data e horário estão em outra dimensão de tempo e espaço, onde residem outros fatos, outras oportunidades e ocasiões.
A você, se acrescentou: perda de tempo, gasto, desgaste, insuflado ao seu subconsciente, que por sua vez já se terá modificado pelo envelhecimento e decurso de tempo com uma sinápse na sua mente para um agravo desnecessário à sua vida psíquica.
Por um quase nada, um cafezinho... - pensou Valfredo.
Perder a oportunidade é tornar tudo o que você vier a fazer no rastro da missão, intempestivo e inoportuno.
A mente de Valfredo, enquanto pensava no que iria fazer a seguir, desenrolava: " A oportunidade é única na abstração do pensamento ou na realidade das conseqüências concretas."
De um jeito ou de outro tem-se que creditar o prejuízo, seja ele suportável, contornável ou não.
Não perca o trem da vida Valfredo! As oportunidades, são como esse trem. Faça sua interação entre sujeito e objeto.
Hoje, as "baldeações" são cada vez mais rápidas. O "trem da história" foi substituído pelo "trem da eletrônica" Correm nos trilhos competitivos das "plataformas da Estação Internet". Que lugar é esse? Fica no (EPA) Estado Profissional da Atualização.Onde o povo atua no presente com os olhos no futuro, sem perdas de tempo.
Há um ditado que era muito usado pelos meus pais que diz o seguinte: "Não confie em capa furada em dias de chuva." Se usar vai ser o mesmo que nada! Atualize a indumentária, troque de capa, adaptando-se e atualizando os equipamentos para o enfrentamento das situações que se apresentarem, principalmente em sua área profissional e nas conotações periféricas. Não Perca seu Tempo, não perca o Trem.
Se é com a mente que vai trabalhar, salve informações atualizadas, percorra as leituras obrigatórias que denotam ao mundo, seus acontecimentos. Para ter em sua mente sempre uma leitura da sociedade global.
Temos que, como na sábia fábula da "Cigarra e a Formiga", fazer frente ao "inverno da formiga" em contraponto ao "cantar da cigarra". As siestas e cantigas são incompatíveis com as atuais formigas eletrônicas.
Enfim, também os livros que armazenam o conhecimento, fechados são meros objetos. O sujeito deve abri-lo para produzir a ação que gera a sabedoria, que vai atingir as metas.

A cigarra confiou na sua política e morreu bem antes do tempo.

terça-feira, 23 de abril de 2013

O RETRATO DO SILÊNCIO




Mauro Martins Santos



De começo direi: - Nada substitui o trabalho do pensamento, análise, meditação e raciocínio. Sem interpretação e entendimento racional, não há aprendizado. Não se pode relegar a segundo plano o pensamento e em conseqü
ência, a ausência da aquisição do conhecimento, que só na paz de espírito e no silêncio, como a chama de uma vela se pode obter.


Não basta o silêncio de fora. Cessar o clamor da existência humana e seus desejos, o fervor das vidas desbravando e desafiando o mundo. É preciso silêncio na alma.
Lembro o recorte de meu pai contra o brilho da janela, com seu olhar perdido, olhando o espaço vazio, e as nuvens navegando o Tempo, desfiando as horas, ele repontando a vida a si mesmo. Cismando sobre a própria Criação.
Era – hoje eu sei – um sapateiro filósofo que aprendeu com a vida; um teólogo por seus constantes estudos da Palavra Sagrada e suas fervorosas orações. Era comum sua sapataria ser visitada pelo Padre Ângelo da paróquia de São Benedito, às vezes por "seu" Samuel e "seu" Cruz, da Igreja Presbiteriana, onde eram presbíteros, outras vezes por um casal inglês Testemunhas de Jeová: Richard e May, ele conversando com meu pai e May querendo aprender a cozinha brasileira com minha mãe. Isto mostrava seu conhecimento teológico onde todos queriam beber um pouco da fonte.
A gravura em minha mente é de um homem de pensamentos. Em que cismava meu pai?
Minha mãe às vezes era ferina sem querer, mas pisava seu íntimo inteligente, quando lhe dizia: - Nardo, você é um homem de “sete instrumentos e sete necessidades”. Finalizava com um risinho irônico. Ele só dizia para ela uma interjeição herdada de seus avós sulistas: - Bah! E continuava em silêncio por um bom pedaço de tempo.
Sempre disse para mim: - A vida não é equivalente ao que lhe damos, do que somos capazes, do que sabemos e do que fazemos!
Em que ele pensava? - Jamais saberemos ao certo.
Que pensava na existência isso o sabíamos.
Como escreveu Rubem Alves: - “E aí se faz o silêncio e dentro
a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.”
Eu comecei a ouvir o silêncio, aprendi com meu pai a ouvir a quietude das coisas. As falas viram palavras escritas, e o gênio da escrita é o silêncio. Aprendi a me refugiar no silêncio das palavras não faladas. Aprendi que, "quando quiseres orar tu vais para teu quarto (teu templo, uma catedral dentro de seu quarto), e lá no silêncio desse teu templo tu irás orar, em silêncio e em secreto, e vosso Pai que está em secreto te ouvirá.”
Os pássaros cantam seus variados cantos. Um grande estrondo os faz cessar. O barulho cessa o canto.
Fernando Pessoa conhecia a experiência e referiu-se a "algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras."
A música como o canto dos pássaros acontece no silêncio dos bosques, quanto mais profundos mais silenciosos. Mais linda melodia, cantos mais harmoniosos.
É preciso que todos os ruídos cessem.
No silêncio, abrem-se as portas de um mundo encantado que mora em nós - como no poema de Mallarmé, “A Catedral Submersa”, que Debussy musicou.
A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar...
Os poetas conhecem esta experiência. O contrário não produz poesia. Não se produz poesia em meio ao crepitar de uma guerra.
“Nosso olhar é submarino", escreveu T.S. Eliot:
“Olhamos para cima e vemos a luz que se fratura através de águas inquietas..."
No silêncio das profundezas se procura por si mesmo. No silêncio da meditação se busca no mais íntimo de nós as respostas às nossas mais sérias indagações.
Para mim, Deus é a beleza que se ouve no silêncio.
Não consigo, e sei que não peco - por que Deus me arquitetou assim – louvar, orar, meditar, dar graças, abençoar, em meio ao barulho, gritos, alaridos, falatórios exaltados de qualquer forma. Não se concatena poesia. E, toda oração e louvor é poesia.
O paraíso é silencioso. No Grande Jardim Inicial, Deus passeava todas as tardes. Ele o fez e o achou muito bom.
Deus amaria mais o mundo se os homens o transformassem num grande jardim para que em silêncio o louvássemos de alma e coração.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

09/04/2013 - 18:10:59


Nome:

Rubem Alves
Nascimento:
15/09/1933
Natural:
Boa Esperança - MG

Rubem Alves

"Enquanto a sociedade feliz não chega, que haja pelo menos
fragmentos de futuro em que a alegria é servida como
sacramento, para que as crianças aprendam que o
mundo pode ser diferente. Que a escola,
ela mesma, seja um fragmento do
futuro..."

Rubem Alves
nasceu no dia 15 de setembro de 1933, em Boa Esperança, sul de Minas Gerais, naquele tempo chamada de Dores da Boa Esperança. A cidade é conhecida pela serra imortalizada por Lamartine Babo e Francisco Alves na música "Serra da Boa Esperança".

A família mudou-se para o Rio de Janeiro, em 1945, onde, apesar de matriculado em bom colégio, sofria com a chacota de seus colegas que não perdoavam seu sotaque mineiro. Buscou refúgio na religião, pois vivia solitário, sem amigos. Teve aulas de piano, mas não teve o mesmo desempenho de seu conterrâneo, Nelson Freire. Foi bem sucedido no estudo de teologia e iniciou sua carreira dentro de sua igreja como pastor em cidade do interior de Minas.

No período de 1953 a 1957 estudou Teologia no Seminário Presbiteriano de Campinas (SP), tendo se transferido para Lavras (MG), em 1958, onde exerce as funções de pastor naquela comunidade até 1963.

Casou-se em 1959 e teve três filhos: Sérgio (1959), Marcos (1962) e Raquel (1975). Foi ela sua musa inspiradora na feitura de contos infantis.

Em 1963 foi estudar em Nova York, retornando ao Brasil no mês de maio de 1964 com o título de Mestre em Teologia pelo Union Theological Seminary. Denunciado pelas autoridades da Igreja Presbiteriana como subversivo, em 1968, foi perseguido pelo regime militar. Abandonou a igreja presbiteriana e retornou com a família para os Estados Unidos, fugindo das ameaças que recebia. Lá, torna-se Doutor em Filosofia (Ph.D.) pelo Princeton Theological Seminary.

Sua tese de doutoramento em teologia, “A Theology of Human Hope”, publicada em 1969 pela editora católica Corpus Books é, no seu entendimento, “um dos primeiros brotos daquilo que posteriormente recebeu o nome de Teoria da Libertação”.

De volta ao Brasil, por indicação do professor Paul Singer, conhecido economista, é contratado para dar aulas de Filosofia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro (SP).

Em 1971, foi professor-visitante no Union Theological Seminary.

Em 1973, transferiu-se para a Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, como professor-adjunto na Faculdade de Educação.

No ano seguinte, 1974, ocupa o cargo de professor-titular de Filosofia no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), na UNICAMP.

É nomeado professor-titular na Faculdade de Educação da UNICAMP e, em 1979, professor livre-docente no IFCH daquela universidade. Convidado pela "Nobel Fundation", profere conferência intitulada "The Quest for Peace".

Na Universidade Estadual de Campinas foi eleito representante dos professores titulares junto ao Conselho Universitário, no período de 1980 a 1985, Diretor da Assessoria de Relações Internacionais de 1985 a 1988 e Diretor da Assessoria Especial para Assuntos de Ensino de 1983 a 1985.

No início da década de 80 torna-se psicanalista pela Sociedade Paulista de Psicanálise.

Em 1988, foi professor-visitante na Universidade de Birmingham, Inglaterra. Posteriormente, a convite da "Rockefeller Fundation" fez "residência" no "Bellagio Study Center", Itália.

Na literatura e a poesia encontrou a alegria que o manteve vivo nas horas más por que passou. Admirador de Adélia Prado, Guimarães Rosa, Manoel de Barros, Octávio Paz, Saramago, Nietzsche, T. S. Eliot, Camus, Santo Agostinho, Borges e Fernando Pessoa, entre outros, tornou-se autor de inúmeros livros, é colaborador em diversos jornais e revistas com crônicas de grande sucesso, em especial entre os vestibulandos.

Afirma que é “psicanalista, embora heterodoxo”, pois nela reside o fato de que acredita que no mais profundo do inconsciente mora a beleza.

Após se aposentar tornou-se proprietário de um restaurante na cidade de Campinas, onde deu vazão a seu amor pela cozinha. No local eram também ministrados cursos sobre cinema, pintura e literatura, além de contar com um ótimo trio com música ao vivo, sempre contando com “canjas” de alunos da Faculdade de Música da UNICAMP.

O autor é membro da Academia Campinense de Letras, professor-emérito da Unicamp e cidadão-honorário de Campinas, onde recebeu a medalha Carlos Gomes de contribuição à cultura.
Bibliografia:

Crônicas

As contas de vidro e o fio de nylon, Editora Ars Poética (São Paulo)
Navegando, Editora Ars Poética (São Paulo)
Teologia do cotidiano, Editora Olho D'Água (São Paulo)
A festa de Maria, Editora Papirus (Campinas)
Cenas da vida, Editora Papirus (Campinas)
Concerto para corpo e alma, Editora Papirus (Campinas)
E aí? - Cartas aos adolescentes e a seus pais, Editora Papirus (Campinas)
O quarto do mistério, Editora Papirus (Campinas)
O retorno eterno, Editora Papirus (Campinas)
Sobre o tempo e a eterna idade, Editora Papirus (Campinas)
Tempus fugit, Editora Paulus (São Paulo)

Livros Infantis

A menina, a gaiola e a bicicleta, Editora Cia das Letrinhas (SP)
A boneca de pano, Edições Loyola (SP)
A loja de brinquedos, Edições Loyola (SP)
A menina e a pantera negra, Edições Loyola (SP)
A menina e o pássaro encantado, Edições Loyola (SP)
A pipa e a flor, Edições Loyola (SP)
A porquinha de rabo esticadinho, Edições Loyola (SP)
A toupeira que queria ver o cometa, Edições Loyola (SP)
Estórias de bichos, Edições Loyola (SP)
Lagartixas e dinossauros, Edições Loyola (SP)
O escorpião e a rã, Edições Loyola (SP)
O flautista mágico, Edições Loyola (SP)
O gambá que não sabia sorrir, Edições Loyola (SP)
O gato que gostava de cenouras, Edições Loyola (SP)
O país dos dedos gordos, Edições Loyola (SP)
A árvore e a aranha, Edições Paulus (SP)
A libélula e a tartaruga, Edições Paulus (SP)
A montanha encantada dos gansos selvagens, Edições Paulus (SP)
A operação de Lili, Edições Paulus (SP)
A planície e o abismo, Edições Paulus (SP)
A selva e o mar, Edições Paulus (SP)
A volta do pássaro encantado, Edições Paulus (SP)
Como nasceu a alegria, Edições Paulus (SP)
O medo da sementinha, Edições Paulus (SP)
Os Morangos, Edições Paulus (SP)
O passarinho engaiolado, Editora Papirus (Campinas)
Vuelve, Pájaro Encantado, Sansueta Ediciones SA (Madrid, España)

Filosofia da Ciência e da Educação

A alegria de ensinar, Editora Ars Poética (SP)
Conversas com quem gosta de ensinar, Editora Ars Poética (SP)
Estórias de quem gosta de ensinar, Editora Ars Poética (SP)
Filosofia da Ciência, Editora Ars Poética (SP)
Entre a ciência e a sapiência, Edições Loyola (SP)

Filosofia da Religião

O enigma da religião (Campinas, Papirus)
L' enigma della religione (Roma, Borla)
O que é religião? (S. Paulo, Brasiliense)
What is religion? (Maryknoll, Orbis)
Was ist religion? (Zurich, Pendo)
Protestantismo e Repressão (S. Paulo, Ática)
Protestantism and Repression (Maryknoll, Orbis)
Dogmatismo e Tolerância (S. Paulo, Paulinas)
O suspiro dos oprimidos (S. Paulo, Paulinas)